Verdade que burro velho não aprende línguas, mas também é verdade que burro velho ainda puxa carroça...
“Estou velho de mais”
“Ninguém contrata ninguém com mais de 50 anos”
“Burro velho não aprende línguas”
Confesso que depois de quase uma década fora de Portugal, nunca senti saudade destas frases. Frases que são tão comuns cá, neste paraíso ao pé do mar plantado, chamado de Portugal.
Nos países onde tive a oportunidade de viver, não poucas vezes me cruzava com pessoas mais seniores, que orgulhosamente ostentavam uma placa no peito mencionando “New joiner”, “Employee in training” ou como se diz no Brasil, “Em treinamento”.
Era notória a sua total integração nas equipas, e mais do que isso, a leveza e a “paz” que eles ofereciam a todos que com eles se cruzavam.
Também é verdade que encontrei pessoas mais velhas que se mantinham há bastante tempo na mesma empresa ou função, como as que encontrava e reencontrava vezes sem conta nas companhias aéreas onde voava frequentemente, ou até mesmo nas lojas de conveniência que frequentava. Mas algo sempre se mantinha intacto, um sorriso contagiante e uma capacidade inata de escutar.
Era impossível ficar indiferente, mas mais do que não ficar indiferente, era a percepção que imediatamente era criada na minha mente enquanto cliente, sobre a empresa ou marca que os contratava ou mantinha.
People first, ou citando Richard Branson (CEO & Founder Virgin Group) “Care about your people, they will care about your business” - “Cuida dos teus, e os teus cuidarão do teu negócio”!
Decidi que tinha que saber mais sobre o porquê de empresas contratarem e/ou manterem estes colaboradores mais seniores. Quis também ir mais a fundo e descobrir quais os ganhos efetivos em ter estes colaboradores nas suas empresas ou equipas. Sendo que alguns ganhos eu já havia identificado, conforme mencionado nos parágrafos anteriores.
Lembro de estar em Mineápolis nos EUA numa reunião com Best Buy, e perguntar ao diretor de operações o porquê de em quase todas as lojas terem um “avozinho” ou uma “avozinha”, ao que ele me respondeu: “Older staff are like magnets, they attracts more business” - "Colaboradores mais velhos, atraem mais negócio."
Pronto! E, assim do nada, se destrói a crença que os mais velhos não servem mais para o mercado de trabalho. E com esta afirmação poderia terminar este tema!
Entrei na loja da Apple para comprar uma capa para o meu iPad e fui atendido por um assistente que me parecia o Morgan Freeman. No final do atendimento, não resisti em perguntar-lhe porque estava a trabalhar ali e porque é que a Apple o queria ali.
Quer adivinhar as respostas?
Ele respondeu-me que parar era morrer, e que gostava de ajudar pessoas. Sobre a Apple, ele disse-me que era normal terem pessoas com mais de 50 anos em várias lojas logo na entrada da loja, para que clientes que não se sintam tão à vontade com a tecnologia não se sintam intimidados.
Como sou curioso, não fiquei por ali. Entrei em modo "chato" e comecei a questionar cada vez mais, não só nos EUA, mas também em outras localizações onde trabalhei nos últimos 10 anos. Principalmente, no México e Brasil que têm por hábito contratar ou manter elementos mais velhos no seu staff na área comercial e/ou apoio ao cliente.
Cheguei a conclusões muito interessantes.
As respostas obtidas sobre o porquê de fazerem questão de terem nas suas equipas, “jovens” bem mais seniores foram algumas mais, mas no final houve um motivo que foi comum em todos eles.
Equipas compostas com uma elevada variedade geracional, tem maior níveis de desempenho e compromisso.
Não é por acaso que se fala que o vinho do Porto melhora com a idade, mas também é verdade que o vinho durante o processo de envelhecimento deve ser cuidado e bem tratado, sob pena de se tornar amargo ou até mesmo “vinagre”.
Nós somos exatamente como o vinho do Porto, mas sem álcool. Ou seja, não existe na verdade um prazo de validade ou vencimento para nós enquanto indivíduos, mas devemos sim cuidar de nós à medida que vamos ficando mais “seniores”. Pois há sempre lugar para nós.
Mudando a perspectiva, deixo desde já o meu desafio para quem tem equipas, e normalmente não olha com a devida atenção para a geração 50+, para rapidamente os começarem a incluir nos seus planos de recrutamento, sob pena de estarem a perder, ou no limite deixarem de ganhar mais compromisso, mais desempenho, mais resultados.
Verdade que burro velho não aprende línguas, mas também é verdade que burro velho ainda puxa carroça...
É possível desenvolver o seu espírito empreendedor em qualquer idade e com a Zome não importa a sua idade, importa sim a sua atitude!
Júlio Quintela
Hub Director Gaia